Irmão Mar: A Pesca hoje e ontem


“Andando à beira do mar da Galileia, ele [Jesus] viu dois irmãos, Simão, que é chamado Pedro, e André, seu irmão, abaixando uma rede no mar, pois eram pescadores. E disse-lhes: ‘Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens.’” — MATEUS 4:18, 19.



A PESCA é mencionada muitas vezes nos Evangelhos. Jesus usou várias ilustrações relacionadas à pesca. E não é de admirar. Ele passou muito tempo ensinando perto do mar da Galileia ou às margens dele. (Mateus 4:13; 13:1, 2; Marcos 3:7, 8) Esse belo lago de água doce tem uns 20 quilômetros de comprimento e 11 de largura. É provável que sete dos apóstolos de Jesus — Pedro, André, Tiago, João, Filipe, Tomé e Natanael — tenham sido pescadores. — João 21:2, 3.
A vida nos rios, lagos, mares e oceanos, que nutre grande parte da população mundial, é afetada pela extração descontrolada dos recursos ictícos, que provoca drásticas diminuições dalgumas espécies. E no entanto continuam a desenvolver-se modalidades seletivas de pesca, que descartam grande parte das espécies apanhadas. Particularmente ameaçados estão organismos marinhos que não temos em consideração, como certas formas de plâncton que constituem um componente muito importante da cadeia alimentar marinha e de que dependem, em última instância, espécies que se utilizam para a alimentação humana... É preocupante, nalgumas áreas costeiras, o desaparecimento dos ecossistemas constituídos por manguezais... Hoje, muitos dos recifes de coral no mundo já são estéreis ou encontram-se num estado contínuo de declínio: Quem transformou o maravilhoso mundo marinho em cemitérios subaquáticos despojados de vida e de cor? (Laudato Si 40, 39, 41)
Hoje com o aumento da população, o consumismo desenfreado, o capitalismo e a busca incessante de lucro levaram a pesca ao excesso, problemas e impactos. Muitos ecologistas marinhos acreditam que, atualmente, a maior ameaça individual para os ecossistemas marinhos é a sobrepesca. O nosso apetite por peixe está ultrapassando os limites ecológicos dos oceanos, com impactos devastadores para os ecossistemas marítimos. Os cientistas têm avisado que a sobrepesca resulta em alterações profundas nos nossos oceanos, modificando-os, talvez, para sempre. 

O excesso de pesca pode ser definido de várias maneiras, no entanto tudo se resume a um simples ponto: Capturar mais peixes que os nossos oceanos podem repor. Do ano de 1950 até 2010 os recursos pesqueiros foram reduzidos em 90% e estima-se que até 2060 eles se esgotem.

No ano de 2008, cientistas recomendaram um valor de pesca segura de 10000 toneladas de Atum, para repor e aumentar a população desses peixes, porém as nações pesqueiras decidiram que esse valor poderia ser extendido para 29500 toneladas, 3 vezes mais do que os cientistas recomendaram como seguro. Diante da discordância entre os cientistas e as nações pesqueiras e da falta de regulamentação, foram capturados no ano de 2008, 61000 toneladas de Atum. 6 vezes o valor considerado como seguro.

Frutos do mar são a principal fonte de proteínas para mais de 1,2 bilhões de pessoas no mundo e caso a sobrepesca continue com as taxas atuais, provavelmente teremos ondas de fome e o colapso de grande parcela da população do planeta.

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Subsídio para a Sobrepesca

Nos dias de hoje, o esforço empregado para capturar uma tonelada de peixe é maior do que era nas décadas anteriores, mesmo com toda a tecnologia atual de radares, sonares e barcos melhores.

Então porque há tantos navios tentando capturar tão poucos peixes?

A resposta é porque os países subsidiam a sua pesca.

Todos os anos bilhões de dólares são gastos em subsídios pelos governos, desde subsídios para combustível até taxas mais baixas de financiamento, o que vem agravando a sobrepesca. Sem esses subsídios, a pesca não seria tão lucrativa e teríamos menos barcos rodando o mundo e consequentemente menos impactos.

Alternativas para a sobrepesca

Diante de um iminente esgotamento dos nossos recursos pesqueiros é evidente que a principal medida para manter as populações marinhas estáveis é diminuir e regulamentar a quantidade de pescado que cada país pode coletar. Associando essa regulamentação com outras medidas, podemos permitir que os estoques marinhos voltem a crescer nos próximos anos.

Mas que medidas podem ser essas?

Criação de zonas de proteção marinha e de pesca proibida.

Várias zonas de proteção devem ser criadas ao redor do mundo em posições estratégicas, para permitir que naqueles locais a vida marinha possa crescer e se reproduzir livremente, sempre gerando novos indivíduos que eventualmente podem sair da área de proteção e serem capturados para consumo humano.



Pesca Seletiva

Uma medida que é utilizada por quase todos os países que querem preservar seus recursos pesqueiros é de apenas pescar indivíduos de determinado tamanho que já atingiram a maturidade sexual, para assim evitar que os peixes sejam capturados antes de gerar descendentes. Porém, embora tenha boa intenção essa medita não é muito eficaz e a longo prazo pode comprometer a qualidade do pescado, tornando-os cada vez menores.

Ao recomendar a pesca apenas de individuos grandes, isso pode comprometer a quantidade de peixes no mar, já que peixes grandes produzem mais ovos com mais nutrientes do que peixes pequenos, apresentando assim maior sucesso reprodutivo.

Além disso, ao apenas pescar peixes grandes, os peixes pequenos irão reproduzir entre si, podendo haver uma seleção de genes que modulem o tamanho menor, tornando as próximas gerações de peixes também menores.

Devido a essas medidas, o tamanho médio de alguns peixes diminuiu em 50% nos últimos 40 anos.


Então qual é a solução?

Ao invés de permitirmos apenas a pesca dos indivíduos grandes, devemos diminuir a quantidade de peixes pescados e capturar apenas uma parcela de indivíduos de todos os tamanhos, para assim permitir que haja um equilíbrio no ambiente marinho.

Outra possível solução, PISCICULTURA!

A criação de peixes em locais próprios além de reduzir o impacto nos mares causado pela pesca natural, ainda gera renda para muitas famílias e comunidades.

O consumo mundial de peixes de aqüicultura superou pela primeira vez na história a pesca natural. Atualmente, mais de 50% dos peixes consumidos no Brasil são provenientes da piscicultura. O Relatório anual sobre o estado da Pesca e Aquicultura no mundo revelou ainda que o Brasil está entre os 25 maiores produtores de peixes de aquicultura.

O Brasil está na liderança dos países que aumentaram o consumo de peixe. Há poucos países, infelizmente, que estão aumentando este tipo de consumo. O peixe tem se mostrado uma proteína de melhor qualidade para o consumo humano e recomendado para uma dieta saudável. O paísainda detém um grande potencial de crescimento para o setorpossuindo grandes açudes e lagos que podem ser utilizados para a piscicultura graças a uma lei que reconhece estas águas como públicas. Porém, o Governo brasileiro deve defender os pequenos aquicultores e pescadores.

Há sempre uma tendência, uma vez estabelecida uma atividade lucrativa como é a aquicultura hoje no Brasil, que grandes empresas entrem neste mercado. Isso é parte da tendência econômica de grandes grupos econômicos que procuram alternativas para a inversão dos seus capitais. O que precisa ser feito é necessariamente privilegiar em maior escala os pequenos aquicultores e pescadores artesanais. É papel do Estado proteger os pequenos, como já consta em sua constituição e leis.

O Acordo Internacional da FAO que prevê a fiscalização de navios de bandeiras estrangeiras em portos nacionais, veio como ferramenta para o fim da pesca ilegal (que por muitas vezes exercem esta atividade em águas internacionais de forma a evitar uma fiscalização direta por parte das nações). Aliado a isto, temos, também, a oportunidade para o fim do contrabando, inclusive de seres humanos, que têm sido utilizados através desta pesca ilegal em barcos sem controle.


E disse o Papa Francisco no Encontro com os Movimentos Populares na Bolívia: 

A primeira tarefa é pôr a economia a serviço dos povos: os seres humanos e a natureza não devem estar a serviço do dinheiro. Digamos NÃO a uma economia de exclusão e iniquidade onde o dinheiro reina em lugar de servir. Essa economia mata. Essa economia exclui. Essa economia destrói a Mãe Terra. 

E na época de Jesus? Como era ser pescador?

‘Levantou-se uma grande agitação no mar’

O mar da Galileia faz parte de um vale de fenda e fica uns 210 metros abaixo do nível do mar. É rodeado por encostas rochosas, e ao norte o majestoso monte Hermom surge no horizonte. No inverno, ventos gelados às vezes deixam o mar agitado. No verão, massas de ar quente cobrem a superfície das águas. Tempestades violentas podem de repente descer das montanhas em volta, liberando sua fúria sobre os marinheiros que cruzam o mar, como aconteceu certa vez com Jesus e seus discípulos. — Mateus 8:23-27.

Os barcos usados pelos pescadores eram de madeira e tinham cerca de 8 metros de comprimento e uns 2 de largura. Muitos tinham uma cabine sob o convés da popa e um mastro. (Marcos 4:35-41).Essas embarcações lentas, mas resistentes, aguentavam a força dos ventos que empurravam as velas e o mastro para um lado, ao passo que o peso da rede puxava para o outro.

Para manobrar o barco, usavam-se remos encaixados nas duas laterais. A tripulação era composta de seis ou mais pescadores. (Marcos 1:20) É provável que os barcos levassem equipamentos e suprimentos, como uma vela de linho (1), uma corda (2), remos (3), uma âncora de pedra (4), agasalhos (5), alimentos (Marcos 8:14) (6), cestos (7), um travesseiro (Marcos 4:38) (8) e uma rede (9). Talvez levassem também boias extras (10),chumbos (11), ferramentas (12) e tochas (13).


“Cercaram uma grande multidão de peixes”

Até hoje, as zonas de pesca mais produtivas do mar da Galileia ficam perto dos lugares onde desembocam os muitos rios e riachos que abastecem esse mar. Os peixes são atraídos pela matéria vegetal que fica acumulada ali. Os pescadores nos dias de Jesus muitas vezes trabalhavam à noite, usando tochas. Em certa ocasião, alguns discípulos de Jesus ficaram a noite inteira sem pescar nada. Mas, no dia seguinte, a pedido de Jesus, abaixaram as redes novamente e pegaram tantos peixes que seus barcos quase afundaram. — Lucas 5:6, 7.

Às vezes, pescava-se em águas profundas, onde dois barcos trabalhavam em equipe. Os pescadores estendiam uma rede entre os barcos e, em seguida, as duas tripulações remavam com toda a força em direções opostas, esticando a rede à medida que formavam um círculo em volta dos peixes. Os barcos completavam esse círculo, fechando assim a armadilha. Então, os pescadores puxavam as cordas presas às pontas da rede, içando os peixes para dentro do barco. A rede talvez tivesse mais de 30 metros de comprimento e cerca de 2,5 metros de largura, grande o suficiente para encurralar um cardume inteiro. A parte de cima tinha boias que a faziam flutuar, e a de baixo tinha pesos de chumbo. Os pescadores lançavam e puxavam a rede vez após vez por horas a fio.

Em águas mais rasas, os pescadores usavam outra técnica. Um barco puxava uma das pontas da rede de arrasto desde a praia na direção do mar, fazia uma curva e voltava à praia, encurralando os peixes. Em seguida, homens na praia puxavam a rede, jogavam os peixes na areia e os separavam ali mesmo, colocando os bons em recipientes. Alguns eram vendidos frescos na região. Mas a maioria deles eram colocados em conserva ou salgados e secados ao sol. Depois, eram guardados em vasos de barro chamados ânforas e enviados para Jerusalém ou exportados para outros países. Tudo que não tivesse escamas ou barbatanas, como as enguias, era considerado impuro e descartado. (Levítico 11:9-12) Jesus se referiu a esse método de pesca ao comparar “o reino dos céus” a uma rede de arrasto, e os diferentes tipos de peixe a pessoas boas e más. — Mateus 13:47-50.



Alguns pescavam sozinhos, talvez usando uma linha com um anzol de bronze e uma isca. Ou usavam a tarrafa, uma pequena rede circular. Eles entravam na água, carregando a tarrafa no braço, e a lançavam o mais alto possível para longe de seu corpo. Ela se abria, caía na água e afundava. Se tudo desse certo, a tarrafa pegava alguns peixes à medida que o pescador a puxava de volta pela corda central.

As redes eram caras, e dava muito trabalho mantê-las. Por isso, eram usadas com cuidado. Assim que voltava de cada viagem, o pescador passava um bom tempo consertando, lavando e secando redes. (Lucas 5:2) Os apóstolos Tiago e João, que eram irmãos, estavam sentados em seu barco, consertando suas redes, quando Jesus os convidou para segui-lo. — Marcos 1:19.

Entre as espécies de peixe pescadas no primeiro século estava a tilápia. Ela era muito comum e fazia parte da alimentação da maioria das pessoas na Galileia. É bem provável que Jesus tenha comido esse peixe saboroso. E ele talvez tenha usado tilápias secas e salgadas ao fazer o milagre em que alimentou milhares de pessoas com dois peixes. (Mateus 14:16, 17; Lucas 24:41-43). Essa mesma espécie de peixe muitas vezes carrega seus filhotes dentro da boca. Mas, quando não faz isso, carrega pedrinhas redondas ou quem sabe até uma pequena moeda brilhante que encontre no fundo do mar. — Mateus 17:27.

No primeiro século, os pescadores tinham de ser pacientes, diligentes e estar dispostos a suportar dificuldades. Os que aceitassem o convite de Jesus de acompanhá-lo na obra de fazer discípulos também precisariam dessas qualidades para ser bons “pescadores de homens”. — Mateus 28:19, 20.

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