Ser grato por nossas conquistas



Desculpem-me os teólogos, ou biblistas, por minha ousadia em escrever uma reflexão a partir do Evangelho. Sou apenas um batizado, religioso irmão, participante assíduo da leitura da Bíblia. E isso me dá, não autoridade, mas ânimo, para tecer estas linhas que se seguem.

Certo dia, num Encontro Vocacional, um confrade meu me desafiou colaborar com a atividade acadêmica de um jovem que, naquele momento, na disciplina escolar de filosofia, estudava sobre a amizade. A ideia era simples: abrir uma reflexão sobre o tema.

E por mais que eu tenha tentado, foi frustrante o resultado. O texto ainda não existia em minha mente. Texto bom nasce na demora dos dias. Assim, a temática do encontro e da amizade ficou gravada em minha memória.

Dias atrás, aqui no noviciado, eu devia preparar uma reflexão para trabalhar com os noviços. Meu ponto de partida era Lc. 19, 1 – 10: o encontro entre Zaqueu e Jesus. E, enquanto eu carpia a nossa horta, eu pensava em quão frutífero fora aquele momento para Zaqueu: duma situação de curiosidade, surgiram várias possibilidade:

Primeira: do encontro que faz nascer a proximidade entre pessoas distintas e diferentes. Proximidade que inspira afeição, e abertura de coração para novas aprendizagens. Segunda: comunicação sadia (palavra clara, coesa, sincera). Comunicação cheia de virtudes: acolhida, atenção ao próximo, cuidado/zelo, respeito. Palavra redentiva, por isso, curativa.

Terceira possibilidade: a alegria proporcionada pelo encontro. Zaqueu era pecador, e, naquele momento, sentiu-se acolhido, incluso, ouvido, percebido de maneira diferente por alguém. Sentiu-se amado fraternalmente. No antigo vocabulário litúrgico aparece, no tempo do advento, a palavra metanoia, que traduzindo seria, mais ou “menos, metamorfose, ou seja: mudar de forma; mudar a mentalidade, mudar a forma de pensar e agir” (Revista Pastoral: novembro/dezembro, 2016), sermos melhores a cada dia. Buscarmos sempre sadios recomeços na vida. Esta é a quarta possibilidade que um encontro entre amigos proporciona.

Deste encontro sincero, e diante da revisão da própria existência, atos e atitudes, Zaqueu encontrou a salvação, e propôs um pacto de reconciliação consigo e com o próximo: uma nova vida nascia ali, nascia cheia de alegria, contentamento e gratidão.

Em nossa literatura brasileira me encanta a obra “Meu pé de laranja lima”, estória recheada de encontros, desencontros, aprendizados de valor de amizade, e de recomeços. Recomeços nem sempre são fáceis, porém cicatrizam profundas feridas da alma se se celebrados com sinceridade, boa consciência, e a prática do perdão. Se advento é espera, e preparação, nada melhor que preparar o Natal buscando a paz cultivada no sacramento da reconciliação, e o bem alicerçado no cultivo das boas e sadias relações fraterno-sociais.

Frei Ronildo Arruda, ofm.

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