Fé, discernimento, vocação (parte II)



Salve, salve, galera franciscana!

Estamos chegando até vocês novamente através deste singelo texto, que nos motiva a continuar no “esquenta” preparatório para acolher o Sínodo dos Bispos no ano que vem com a temática “Jovens, fé e discernimento vocacional”. Dessa vez, vamos conferir o que o Documento Preparatório nos diz sobre a relação vocação-missão e sobre a dimensão do acompanhamento vocacional. Vamos nessa? 

Percursos de vocação e missão 


Neste ponto do documento, os bispos dizem que o discernimento vocacional é um processo longo e progressivo em que a pessoa vai descobrindo qual o desejo de Deus a respeito da sua vida. Embora existam momentos ou encontros decisivos, a vocação não se completa com um único ato, dirão os bispos. 

Dos diversos exemplos de vocação que podemos tirar da narrativa Bíblica, o documento faz referência a dois em particular. O primeiro é o chamado de Abraão e Sara, que são convidados por Deus a partirem para uma terra que Ele mesmo iria mostrar. Vejam, existe um encontro decisivo de Deus com Abraão e Sara, porém, eles só terão clareza da vontade de Deus – a “terra que Eu te mostrarei” – depois de um longo caminho, muitas vezes marcado pelos obstáculos. 

O segundo exemplo é a vocação de Maria, em que também identificamos um encontro decisivo e pessoal, assim como uma resposta igualmente pessoal e única – “eis aqui a serva do Senhor” –, resposta esta que precisou de muita reflexão e que, como a própria história nos conta, gerou algumas inquietações em Maria. É por meio de um processo que Maria vai entendendo o que Deus planejou para ela. O que não compreendia, guardava no seu coração. 

Os bispos dizem algo muito genial: “O tempo é fundamental para verificar a orientação efetiva da decisão tomada”. Para pensar em vocação, precisamos de uma boa dose de paciência e confiança em Deus, que quer o melhor para cada um de nós, mas que respeita nossa liberdade de escolha, como já falamos em outros textos ao longo de nosso estudo do DPS.

Não existe vocação sem missão, uma vez que, se Deus chama, é para uma missão específica. Em todas as passagens bíblicas que narram a vocação dos personagens (Samuel, Isaías, Jeremias, Abraão e Sara, Moisés, etc.), há sempre a designação para uma tarefa, para um serviço, para uma missão. Esse chamado é acolhido com entusiasmo ou com temor. 

Como o próprio Jesus nos ensina, aceitar a vocação implica a disponibilidade de arriscar a própria vida e percorrer o caminho da cruz. Os bispos destacam que “só se a pessoa renunciar a ocupar o centro da cena com as suas próprias necessidades é que se abrirá o espaço para receber o projeto de Deus sobre a vida familiar, o ministério ordenado ou a vida consagrada, assim como para desempenhar com rigor a própria profissão e buscar sinceramente o bem comum”. Em outras palavras, precisamos deixar Deus agir na nossa vida. Deixar nosso coração aberto para acolher os sinais de Deus, que fala pelas pessoas, pelos acontecimentos – felizes e infelizes –, e principalmente no silêncio da oração sincera. 

O acompanhamento 


Os bispos dizem que na base do discernimento vocacional podemos encontrar três convicções, relidas à luz da fé e da tradição bíblica. A primeira convicção é a de que o Espírito de Deus age na vida do ser humano, de cada um de nós – moças e rapazes – e nós, ouvindo com atenção essa voz de Deus, podemos interpretar os seus sinais. A segunda convicção é a de que o nosso coração apresenta-se normalmente dividido porque é atraído por apelos que divergem ou até se opõem entre si (todos nós já tivemos alguma experiência de estar divididos em relação às nossas escolhas pessoais). 

A terceira convicção é a de que embora nosso coração apresente-se dividido, dadas as diversas possibilidades de “rotas” na estrada da nossa vida, não temos escapatória: precisamos decidir. Afinal na vida real, não existe uma voz como a do GPS, que diz “recalculando rotas... vire à direita!”. Cada um é responsável por construir seu caminho, fazendo uma leitura daqueles sinais de Deus, do qual falamos acima. 

 No entanto, para reconhecer esses sinais de Deus, precisamos dos instrumentos necessários, dizem os bispos. O primeiro instrumento para o discernimento vocacional é o acompanhamento pessoal. Para acompanhar alguém é preciso viver na própria pele a experiência de interpretar os movimentos do coração e neles reconhecer a voz de Deus que fala na singularidade de cada um. O acompanhamento espiritual é um exercício de favorecer a relação entre a pessoa e o Senhor e preparar o terreno para o encontro entre eles. Jesus ensina, através de sua relação com as pessoas de seu tempo, como deve ser o perfil de quem acompanha o jovem no discernimento vocacional: deve ser próximo, dar testemunho de autenticidade, ter um olhar amoroso que acolha o jovem, tomar a decisão de caminhar ao lado, etc. A Igreja entende que sua tarefa no discernimento vocacional é colaborar para a alegria do jovem, e não apoderar-se de sua fé. Em síntese, o acompanhamento espiritual baseia-se na oração e no pedido do dom do Espírito que guia e ilumina a todos e cada um. 

Para fim de papo... 


Galera bonita, esse nosso tema de hoje é daqueles que a gente fica com desejo de saber mais e mais, não é mesmo? Para quem desejar, deixo novamente o convite de procurar o Documento Preparatório para o Sínodo e reler essa parte que fala do discernimento vocacional. E ainda deixo o convite para ficarem ligados e ligadas em meu canal do YouTube, onde estarei em breve gravando alguns vídeos com essa temática toda que estamos refletindo juntos. 

Desejo que o Senhor os abençoe e proteja, e por intercessão de São Francisco e Santa Clara de Assis, todos possam responder ao chamado de Deus com alegria e entusiasmo, ouvindo a sua voz que chama a cada um de modo único e especial. 

Abraço fraterno! 
Paz e Bem! 
Frei Renan Espíndola, OFMCap. Pelotas, RS.

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